quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O "não-parto" - um desabafo

Sei que muita gente não entenderia nunca o que vou escrever agora sobre o nascimento da Luiza. Claro que foi "o" acontecimento da minha vida, uma das maiores emoções que já vivenciei até hoje, uma alegria extrema, que não dá nem pra tentar explicar. Mas não foi do jeito que eu queria e me causou sim uma espécie de trauma.

Vou contar como tudo aconteceu. Desde antes de engravidar sonho com um parto normal. Mas não tinha ideia de como era difícil hoje em dia conseguir um. Primeiro, tem o sistema obstétrico que te engole, sem dó nem piedade. A falta de informação é a principal arma dos obstetras de hoje em dia. Tudo é impedimento para um parto normal. As desculpas são inacreditáveis. Depois, com a tecnologia cada vez mais a serviço da medicina e a mídia disseminando um estereótipo muito assustador de parto, criou-se uma cultura de fobia ao parto normal.

Caí na besteira de dizer pras pessoas que queria ter minha filha por parto normal. A estranheza à minha resposta era imediata e todo mundo tinha uma história escabrosa de parto mal sucedido pra me contar. "Fulaninho teve problemas cerebrais porque ficou muito tempo sem respirar": era o que eu mais ouvia.

Achava que estava me preparando bem para o parto, lendo muito, pesquisando, mas, é obvio, foi muito menos do que insuficiente. Ao longo da gestação minha obstetra foi tratando de me mostrar que o meu caso era cirúrgico. Primeiro me avisou logo: "só faço parto normal se o bebê não for grande, se não estiver laçado e se estiver na posição certa - cefálico (virado com a cabeça pra baixo) e com o dorso à esquerda. Ok, pensei, está sendo sincera. Mas que nada. Ela não ia fazer parto normal de jeito nenhum. Falou que a Luiza era uma bebê GORDA (ela nasceu com pouco mais de três quilos) e que eu não tinha abertura pélvica suficiente (famosa bacia estreita). Chegou a fazer uma espécie de exame de toque pra me mostrar que eu tinha pouco espaço pra bebê passar.  E eu ainda questionei: "Dra., esse espaço  não vai abrir com a dilatação DURANTE o trabalho de parto"? Ela me garantiu que não, que um ossinho antes da bacia ia me impedir de realizar o meu sonho. Ainda foi cínica: "Uma pena que quando aparece uma mulher querendo parto normal não possa!!!"

Resultado: mesmo um pouco angustiada, achando que poderia estar sendo enganada, cedi, com medo de procurar outro médico com 36, 37 semanas de gestação. Ela marcou a cirurgia para uma segunda de manhã bem cedo, às seis, alegando que estaria mais descansada (e não atrapalhar a agenda do consultório, né, Dra?). Enquanto faziam o procedimento, enfermeiros e médicos conversavam sobre outros assuntos, de vem em quando falavam comigo (com exceção do anestesista que me monitorava o tempo todo). Tudo durou pouco mais de vinte minutos. Luiza nasceu com 38 semanas e 4 dias.

O medo do parto normal é geral, mas ninguém fala dos riscos de uma cirurgia de médio-grande porte, que existe grande chance dos pulmões do bebê não estarem prontos, que o leite demora muito mais a descer e que a dor no pós-operatório é grande. Nos primeiros dois dias tive dificuldades pra segurar a Luiza, os antibióticos e antiinflamatórios que tomei me renderam uma baixa brusca de imunidade, fora outros incômodos. Por ter passado por tudo isso, concordo com a tese de que cesárea não é parto, é uma cirurgia para extração de bebês.

Claro que fiquei feliz com a chegada da minha princesa, mas poderia ter sido uma experiência ainda mais transformadora. Nem preciso dizer que já estou com outra médica, buscando desde já muita informação e com um monte de ideias na cabeça.

Na próxima vez, ninguém me segura.

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